Um país múltiplo com muito ainda a ser descoberto. Assim é o Marrocos, com contraste de cores e riquezas, que vem dando exemplo de liberdade para as mulheres muçulmanas e que tem um turismo a cada dia mais organizado. Há quem diga que é apaixonado pelo país e quer voltar, outros ainda torcem o nariz por experiências não tão felizes por lá. Muitos só conhecem cidades como Casablanca e Marrakesh, realmente importantes, mas, para se ter uma ideia do país, é preciso ir além. Outro item básico para viajar com conforto e sem preocupação é contratar um tour privativo com guia e motorista para evitar assédios de vendedores ambulantes, guias fakes e até mesmo contra mulheres. Nosso guia foi o Mohammed, nome muito comum, com mais de 20 anos de experiência.
Ele conhecia todo mundo e tinha acesso a todos os monumentos visitados. Com ele, nada de fila. Começamos nossa viagem por Casablanca, em uma jornada de 10 dias de descobertas. Capital financeira e maior cidade do Marrocos, Casablanca funciona como ponto principal de chegada e partida dos viajantes. Um dia inteiro é suficiente para se acostumar ao clima e conhecer seus pontos turísticos. Imperdível é a visita à Mesquita Hassan II, maior do país e a mais alta da África. Toda em mármore, com a predominância do verde, contrasta lindamente com o azul do oceano e do céu. Vale a visita até porque é a única Mesquita do Marrocos em que é permitida a entrada de quem não segue a religião. Um dos grandes trunfos é a gama hoteleira. De frente para o mar e cheio de mimos, o Four Seasons Hotel Casablanca, inaugurado há dois anos, oferece spa, área de piscina completa e gastronomia de primeira. Já o Mint, dentro do hotel, é um dos melhores restaurantes marroquinos da cidade, com pratos tradicionais, como cuscuz e pastilla, repletos de sabor. Algo que gerou estranhamento logo que chegamos ao hotel foram os detectores de metais, como aqueles de aeroportos. Mas, por lá, é mais uma questão relacionada ao terrorismo, e quase todos os hotéis têm.
Um carro confortável é essencial, pois alguns trajetos são longos. Partindo de Casablanca a Rabat, você vai se deparar com uma parte do Marrocos mais preservada e ortodoxa com as tradições religiosas com muitas mulheres totalmente cobertas, que usam niqab ou burqa. Rabat, capital política, possui um contraste fabuloso entre a paisagem árida e o oceano. A Medina é mais tranquila do que em outras cidades. Não deixe de fazer um passeio a pé por kasbah, com suas casas brancas e azuis, que parece uma mini-Grécia. De lá, saem as melhores fotos, com um pôr do sol e uma vista do encontro do rio com o mar que impressionam.
O Marrocos vive em uma monarquia constitucional com um parlamento eleito. O rei Mohammed VI, filho de Hassan II, é o 18º rei da Dinastia e comanda o país desde 2002. É um rei aplaudido pela população, e sua foto – obrigatória – é vista em todos os lugares públicos. Mesmo que não fosse, porém, a imagem estaria lá, já que ele é querido por ter investido em infraestrutura e por ter uma cabeça aberta. Muito disso pode ter a ver com a sua mulher, a princesa consorte Lalla Salma de Marrocos (Salma Benani), a primeira esposa de um rei marroquino a ter conhecimento público e receber um título real. Ela é formada em ciências da computação e é ativa na sociedade, além de ser lembrada por sua elegância, com grifes como Dior e Chanel compondo seu guarda-roupa.
Voltando ao rei, ele figura como um dos 10 monarcas mais ricos do mundo, o que é perceptível nos 12 Palácios Reais, espalhados pelo país, e nas roupas e joias de sua esposa. A casa oficial da família real fica em Rabat, e é um dos mais bonitos. A muralha e os portões que separam o palácio Dar al Makhzen do restante da cidade impressionam pela imponência. Ainda na esplanada de Rabat, o Mausoléu Mohammed V é suntuoso com abundância de mármore branco, telhas verdes e adornos em ouro. No Marrocos, não há cremação de corpos, todos são enterrados de lado, virados para Meca. Dizem que foram necessários mais de 400 homens e nove anos para a inauguração do mausoléu em 1971. O espaço guarda os túmulos do rei e de seus dois filhos. Ao lado fica uma mesquita aberta somente aos fiéis, e esse é um dos lugares mais belos do país.
Escondido nas ruelas labirínticas da Medina de Rabat, o Dinarjat é um restaurante que vale ser descoberto. Não tem placa na porta, só alguns bons guias o conhecem. Parece um oásis em meio à confusão da Medina. Ao entrar, já se depara com uma antiga casa marroquina totalmente preservada. O menu conta com diferentes pratos marroquinos e é uma ótima oportunidade para provar uma das mais famosas cervejas locais, a Casablanca, e os vinhos produzidos no país. Para ter uma legítima vivência, escolha se hospedar em Riads, antigas casas, transformadas em pousadas, que ficam dentro das Medinas. Depois, vá conhecer a cidade imperial de Meknes, fundada no século 10, no centro norte do país. A cidade é rodeada por 40 km de muro, tem o monumental Bab el Mansour, considerado o maior portão da África e um dos mais bonitos. Não à toa, o então sultão Moulay Ismail, que construiu a muralha e o portão, ficou conhecido por seus exageros, pois teve 500 mulheres, 888 filhos e 12 mil cavalos. Verdade ou mito? Não dá para saber.
Reserve dois dias para conhecer Fez. O palácio de lá é o maior e mais antigo, datado do século 14. Há sete portões que foram feitos em cobre e talhados à mão. A parte nova de Fez também vale a visita. A região é chamada de Boulemane, e a avenida principal, Hassan II tem um belíssimo jardim central. Caminhe por ela, sem pressa, e pare em um dos cafés para tomar um chá de hortelã ou um suco de laranja doce, que, em geral, custa R$ 1. Os homens dominam os cafés e seus olhares são um pouco constrangedores, mas é algo com que, infelizmente, você terá que lidar durante toda a jornada pelo país.
Depois, parta para a confusa Medina. No meio dela, há um curtume – lugar típico de tingimento de couro –, um dos cartões-postais. O mau cheiro é desesperador, e você tem que cheirar um ramo de hortelã para aguentar, mas vale a pena conhecer, já que a vista do alto com os tanques de tingimento de diferentes cores é linda. O lugar foi usado como cenário de gravação de algumas cenas da novela O Clone, da Rede Globo, em 2001. Além disso, é possível encontrar bolsas, sapatos e diferentes itens feitos em couro por lá.
Partindo de Fez a Marrakesh, vale parar em Volubilis, cidade romana que remonta ao século 4o, dominada pelos árabes no século 12. Para se ter uma ideia, a cidade tem mais de 2 mil anos e chegou a ter 20 mil habitantes, e hoje é parte do patrimônio da Unesco e considerada o sítio arqueológico mais bem preservado do norte da África. Interessante para se entender melhor sobre a história da região e dos costumes das pessoas que ali moravam.
Seguindo viagem… Ah Marrakesh! Essa cidade, que inspira e atrai grande parte dos visitantes ao país, é mesmo encantadora. Seu povo, sua arte e suas construções todas no mesmo tom de terracota formam um cartão-postal. A juventude ali vive mais a liberdade e toma as ruas todas as noites, já que o calor escaldante faz querer ficar fora até tarde. Lojas de grife e shoppings dividem espaço com uma Medina repleta de opções. A mesquita de Marrakesh é do século 12, sua torre tem 77 metros de altura, e esse é o máximo que as construções podem ter na cidade. Os prédios têm, em média, seis andares. A Medina é grande e organizada aos turistas. Há muitas ofertas de porcelana, couro, azeitonas, produtos de beleza. Cuidado para os produtos falsos de óleo de Argan, informe-se no hotel ou com seu guia para ir a uma farmácia de manipulação verdadeira. Termine seu passeio na praça Djemaa el-Fna, o centro da Medina, em que pode ver homens encantadores de cobras, mulheres pintando turistas com henna e barracas vendendo suco de laranja. Não deixe de conhecer uma das medersas, escolas do Alcorão onde os meninos estudam. Muitas estão desativadas, mas a Ali ben Youssef, em Marrakesh, pode ser visitada.
Vale ir ainda ao Palácio Bahia, ver a rica ornamentação criada pelos mestres artesãos. E o jardim de Majorelle, um capítulo à parte. A propriedade e o museu foram construídos pelo estilista francês Yves Saint Laurent e seu parceiro Pierre Bergé, que escolheram a cidade como seu lar desde 1980. O lindo jardim é famoso pelos cactos, diferentes tipos de plantas, flores e por seu colorido, ou melhor, pelo seu azul conhecido como azul Majorelle. No museu, há peças da coleção própria com itens da cultura marroquina, como roupas, joias e artesanato. Além disso, um novo museu foi inaugurado no final de 2017 e conta com uma coleção de roupas, desenhos e fotos que retratam a fascinante carreira do estilista. O jardim e a casa ficam na Nouvelle Ville, área construída pelos franceses.
Para se hospedar, o hotel La Mamounia continua sendo referência. Inaugurado em 1926, ele fica próximo da Medina e tem uma estrutura completa. Ou o Palais Namaskar, com serviço impecável que impressiona, assim como suas villas privativas e piscinas perfeitas para casais, já que a calmaria é ponto alto ali. Os espelhos d’água e os arcos espalhados por toda a propriedade te fazem viajar no tempo. Para fechar sua estadia, reserve uma mesa no Bô Zin, afastado do centro e todo moderno, um mix de lounge, restaurante e bar, decorado com velas e flores, com menu variado incluindo pratos marroquinos e asiáticos, além de ampla carta de bebidas.
O Marrocos vale muito a sua aposta. Há uma vasta arquitetura com influência espanhola e francesa. A população fala árabe e francês e, alguns lugares, espanhol. Os mais privilegiados falam inglês. Um país para voltar e com muito mais a ser descoberto.
como ir
A TAP Portugal oferece voos diários de São Paulo para Lisboa. De lá, você pode fazer escala para o Marrocos voando para Casablanca, Marrakesh, Tânger e Fez. flytap.com
A operadora All Marocco Travel tem diversos tours pelo país e pode adaptar conforme o desejo do cliente. Um deles é o tour privativo para duas pessoas de oito noites, que contempla cinco cidades em hotéis categoria cinco estrelas, sai por 2.900 euros por pessoa.
Reservas: 05 22 542 873
ou allmoroccotravel.net
documentação
É necessário ter passaporte com no mínimo seis meses de validade. Brasileiros estão isentos de visto por até 90 dias.
Quando ir
Não é indicado ir na época de verão, pois as temperaturas são muito altas e o tempo, muito seco. O ideal é visitar o país a partir de outubro quando as temperaturas estão mais amenas e as ruas, com uma quantidade menor de turistas.
O que levar
Leve roupas leves e confortáveis. Para as mulheres é aconselhável levar uma pashmina para entrar em alguns lugares como a Mesquita em Casablanca e, caso queira evitar olhares maliciosos, levar roupas mais longas e nada justo. Em Marrakesh você vê jovens usando todos os tipos de roupas, mas em outras cidade o costume é diferente.
Casablanca
Onde ficar
Four Seasons Hotel Casablanca. Este é um dos melhores e mais elegantes hotéis da cidade. Ele fica de frente para a praia, e a área da piscina é convidativa ao relaxamento. fourseasons.com/casablanca
Fez
Onde ficar
Riad Fes. A casa tem decoração clássica e bem marroquina, pertence à rede Relais & Châteaux e conta com piscina, spa e restaurante aos hóspedes. riadfes.com
Rabat
Onde ficar
Riad Dar Dar, pequeno e muito aconchegante, com decoração que mistura o tradicional e o moderno, e a comida é deliciosa.
Onde comer
Dinarjat. O restaurante não tem site e fica escondido nas ruelas da Medina. Um jantar completo custará cerca de 30 euros por pessoa. Ele fica na 6, Rue Belgnaoui. Lembre de fazer reserva antecipada: 0537 70 42 39.
Marrakesh
Onde ficar
La Mamounia. Um hotel clássico da cidade, que conta com três restaurantes, seis bares, spa que usa apenas produtos naturais, e quartos para todos os gostos. Seu brunch servido aos domingos foi eleito o segundo melhor do mundo. Tem uma decoração clássica e um cassino. mamounia.com
Palais Namaskar. O hotel fica a cerca de 15 km da Medina de Marrakesh e, além do serviço impecável, oferece uma gama de passeios para conhecer mehor a cidade e os arredores, como um dia no deserto. A decoração do hotel em tons claros, que mescla influências árabes, é deslumbrante. O spa tem tratamentos relaxantes com produtos naturais. palaisnamaskar.com
Onde comer
Bô-Zin. Um jantar sai em média 40 euros por pessoa. É essencial fazer reserva para curtir a noite sem pressa. bo-zin.com